1978-2012
Lançada a partir do “espírito” de Bandung, em 1978, a revista Estudos Afro-Asiáticos (EAA) foi certamente um dos principais periódicos sobre estudos africanos e afro-brasileiros do país. Contando 34 anos de publicação ininterrupta, a EAA representava um dos pilares do Centro de Estudos Afro-Asiáticos em suas relações internacionais, elaborando redes com autores africanos, latino-americanos e asiáticos.
Nascendo como órgão de divulgação das atividades do Centro, os primeiros números da EAA voltavam-se à publicação de artigos de pesquisa; textos didáticos; documentos oficiais de governos africanos e asiáticos, e de órgãos internacionais; eventos organizados pelo CEAA ou com sua participação; além de comentários bibliográficos que facilitassem o acesso a áreas então quase desconhecidas do público brasileiro.
Refletia-se, assim, a sua vocação de revista aberta, voltada para a circulação de saberes sobre o “Terceiro Mundo”. Era o momento em que o Centro dedicava-se às questões relacionadas com a descolonização, o apartheid e os acontecimentos que ocorriam nas colônias e ex-colônias portuguesas.
Ao mesmo tempo, como lembra Segura-Ramirez (2000, p. 32), a ênfase na circulação de saberes e notícias sobre África e Ásia expressava o papel de assessoria e consultoria que o Centro prestava a importantes empresas privadas e estatais, em seus acordos comerciais e diplomáticos com aqueles continentes.
Espelho das gestões do Centro em suas diferentes “fases”, a EAA refletiu a transformação na agenda de pesquisa, com a ascensão de Carlos Hasenbalg à Vice-Direção, no lugar de José Maria, fundador e primeiro redator-chefe da revista. O número 13, de 1987, traz o tom da mudança, afirmando o novo foco prioritário, que se manteria nos quinze anos subsequentes, sem, contudo, jamais desaparecer do escopo editorial: a realização de pesquisas empíricas originais no novo campo de estudos afro-brasileiros.
A sociologia seria a disciplina privilegiada, e a metodologia dos projetos e pesquisas em execução se basearia primariamente nas estatísticas recentes do IBGE e nos trabalhos de estratificação, abordando as dinâmicas socioeconômicas e demográficas dos grupos raciais.
Os artigos investigam as diferenças raciais de acesso ao sistema de ensino formal; de ocupação no mercado de trabalho; de natalidade e mortalidade; os padrões de comportamento reprodutivo e as projeções de crescimento dos grupos raciais, demonstrando as diferenças de realização nas trajetórias de brancos e não-brancos.
A partir de 2002, verifica-se maior equilíbrio entre os temas africanos e étnico-raciais, e um volume maior de artigos sobre escravidão e tráfico transatlântico, figurando a EAA como um dos mais importantes espaços de renovação da historiografia da escravidão produzida no país.
O quadro editorial, agora com maior participação de africanistas, antropólogos e historiadores, anuncia mais espaço para os estudos de língua e cultura, em perspectiva regional, internacional e comparada. A vitalidade e inovação acadêmica da EAA pode ser observada até pouco antes de ser descontinuada, em 2012.
Ao longo de 56 números publicados, a EAA se mostra um espaço de diálogo entre os diversos setores que buscavam entender as relações raciais no Brasil, tanto pela chave da desigualdade, quanto pela chave da diáspora.
O diálogo não se limitava aos diferentes campos de saber, materializando-se, de forma mais profunda, no modo como a revista funcionava, ao conectar pesquisadores da questão racial e ativistas do movimento negro, brasileiros e estrangeiros, das mais diversas regiões e nacionalidades.
É com grande satisfação e dever de compromisso com a comunidade acadêmica que o Projeto “A contribuição do CEAA para as ciências sociais brasileiras” ora disponibiliza, em formato digital e em PDFs pesquisáveis, a coleção completa contendo todos os números da Revista Estudos Afro-Asiáticos.
Embora os volumes de 2000 a 2003 já estivessem disponíveis na plataforma Scielo há muitos anos, não foi possível, por motivos vários, avançar com o processo de digitalização, uma importante lacuna que ora vimos suprir.
Texto de: Alexandre de Paiva Rio Camargo; Camila Gonçalves De Mario; Gabriel Delphino; Marianne da Silva Rocha; Thiago Campos da Silva.
Referências:
PEREIRA, José Maria Nunes. “Nota de apresentação”. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 1, p. 5, 1978.
SEGURA-RAMIREZ, Hector Fernando. Revista Estudos Afro-Asiáticos (1978-1997) e Relações Raciais no Brasil: elementos para o estudo do subcampo acadêmico das relações raciais no Brasil. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Unicamp; Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, São Paulo, 2000.
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Este Projeto foi financiado pela FAPERJ, por meio do Edital 29/2021, Apoio aos Programas e Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu do Estado do Rio de Janeiro (Processo E-26/210.966/2021), e do Edital 28/2021, Programa de Apoio a Projetos Temáticos no Rio de Janeiro (Processo E-26/211.317/2021).