Ao final da década de 1980, às vésperas do centenário da Abolição, o Afro inovou ao inaugurar, com recursos financeiros da Fundação Ford, um concurso de monografias e um programa de auxílio destinado a financiar projetos de jovens pesquisadores. Este programa ficou conhecido como Concurso de Dotações para Pesquisas sobre o negro no Brasil.
Uma das motivações do concurso foi atribuída ao "virtual desaparecimento de disciplina sobre o negro nos cursos de graduação e o número ainda pequeno de teses e trabalhos publicados sobre esse tema", apesar do "crescimento do nosso sistema universitário e da institucionalização da pós-graduação no País nestes últimos 15 anos" (EAA, 1987, p.116). O Concurso foi desenvolvido com a intenção de induzir uma agenda de pesquisa ainda em formação, voltada para a conformação da sociedade brasileira e o papel que coube à população negra neste arranjo social.
Para realizar a inscrição no Concurso, o participante (que poderia ser de qualquer região do país) deveria enviar um projeto de pesquisa em uma das seguintes disciplinas: Sociologia, Ciência Política, Antropologia, História, Comunicação ou Letras. O Projeto não precisava apresentar orientação metodológica prévia, nem estar vinculado a uma instituição de ensino, ou programa de mestrado e doutorado. Trata-se de um tipo de financiamento de pesquisa muito diferente dos moldes hoje praticados, encorajando propostas dispostas a construir uma interlocução entre saberes acadêmicos e experiências forjadas em vivências e práticas cotidianas.
Outro aspecto inovador do Concurso foi a priorização de candidatas e candidatos negros, uma opção não formalizada em edital, mas aplicada estrategicamente por Carlos Hasenbalg, que assim implementou uma iniciativa de proto-ação afirmativa na formação de quadros de pesqusiadores, antes de qualquer outro centro ou universidade.
O número de projetos contemplados era variável, sujeito ao valor do financiamento disponível. Cada edição tinha uma banca avaliadora distinta, composta por pesquisadores prestigiados e consolidados, como Carlos Hasenbalg, Nelson do Valle Silva, Kabengele Munanga, Octávio Ianni, Giralda Seyferth, Patrícia Birman, Ronaldo Vainfas e Yvonne Maggie.
Entre os contemplados, não há um perfil único. Alguns pesquisadores se encontravam em início de carreira, outros, já mais amadurecidos; alguns eram vinculados a universidades públicas ou privadas, e outros não possuíam vínculo institucional no momento da aplicação. Não foi possível identificar registros sobre a primeira edição do Concurso.
Para realizar a inscrição, o participante deveria entregar um projeto de pesquisa formal, cronograma de execução, orçamento detalhado com gastos de execução; duas cartas de recomendação, além do currículo. O apoio financeiro era dividido em quatro parcelas. A primeira, na ocasião da aprovação do projeto e assinatura do contrato. As parcelas seguintes eram disponibilizadas mediante apresentação de relatórios e prestações de conta parciais. A pesquisa deveria ser concluída em um intervalo de um ano.
Com base no levantamento de documentação do antigo Acervo da Biblioteca do Afro, e em textos da Revista Estudos Afro-Asiáticos – um dos principais canais de divulgação do Concurso de Dotações, o Projeto Memória do CEAA disponibiliza um conjunto formado por publicações, relatórios de pesquisa e prestações de contas dos pesquisadores contemplados, que logo se tornaram importantes nomes do campo de estudos afro-brasileiros. Através deste conjunto, pode-se vislumbrar a composição das comissões de seleção, a evolução das temáticas e a formação de redes e vínculos de pesquisa.
Texto de: Alexandre de Paiva Rio Camargo; Bernardo Cruz; Camila Gonçalves De Mario; Maria Francisca Theberge.
A gestão Carlos Hasenbalg e a nova agenda para o CEAA
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Dossiê Carlos Rodrigues Brandão (Ciências Sociais – UNICAMP) – Projeto Negros Devotos e Artistas – a identidade ambivalente:
3º Concurso de Dotações para Pesquisas sobre o Negro no Brasil
Bolsista:
“O Centro de Estudos Afro-Asiáticos realizou o IV Concurso de Dotações para Pesquisa sobre o Negro no Brasil. A comissão de julgamento dos projetos – composta pelos professores Carlos Hasenbalg, Nelson do Valle Silva, Patrícia Birman, Ronaldo Vainfas e Yvonne Maggie – reuniu-se no dia 13 de dezembro de 1989 e decidiu aprovar os seguintes projetos”. [listados abaixo da citação] (…) Ao IV Concurso concorreram 40 projetos, focalizando os mais diversos aspectos voltados para os temas escravidão e relações raciais. Muitos dos projetos, apesar de boa qualidade, não foram aprovados devido à limitação dos recursos disponíveis. O interesse despertado pelo Concurso, com projetos sendo enviados de todo o país, aponta para a crescente importância dos estudos sobre relações raciais. Por outro lado, indica a necessidade de se consolidar e ampliar o apoio a esses estudos.” Orelha do n.18 da EAA, 1990.
Bolsista:
Bolsista:
7º Concurso de Dotações para Pesquisas sobre o Negro no Brasil
Ano: 1996
Bolsista:
Bolsista:
Rua da Assembléia, 10, 3º Andar, Sala 319,
Centro, Rio de Janeiro / RJ • CEP: 20011-901
Este Projeto foi financiado pela FAPERJ, por meio do Edital 29/2021, Apoio aos Programas e Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu do Estado do Rio de Janeiro (Processo E-26/210.966/2021), e do Edital 28/2021, Programa de Apoio a Projetos Temáticos no Rio de Janeiro (Processo E-26/211.317/2021).