O Programa Fábrica de Ideias, criado em 1997 na UCAM e transferido em 2002 para o CEAO/UFBA sob coordenação do Prof. Livio Sansone, tornou-se uma das mais importantes iniciativas de formação e internacionalização no campo dos estudos étnico-raciais no Brasil.
Voltado a docentes e estudantes de diferentes regiões do país, o programa se consolidou como uma medida pioneira de ação afirmativa por cor e classe no ensino superior. Seu objetivo central era ampliar o acesso de jovens intelectuais – majoritariamente negros e oriundos de universidades fora dos grandes centros – a um espaço de formação de excelência acadêmica, crítica e internacionalizada.
A proposta combinava intercâmbio acadêmico e formação intensiva, por meio de cursos, palestras e disciplinas ofertadas tanto para graduação quanto para pós-graduação. Um dos diferenciais do programa foi o convite recorrente a pesquisadores estrangeiros renomados, vindos da África, Caribe, América Latina, Estados Unidos e Europa, que ministravam cursos intensivos em Salvador. Essa estratégia não apenas estimulava o diálogo Sul–Sul, como também equilibrava a circulação de saberes no eixo Sul–Norte.
Ao longo de mais de uma década, o Fábrica de Ideias organizou colóquios internacionais, minicursos, simpósios e programas de publicações que resultaram na tradução e difusão de obras fundamentais sobre África e diáspora. Entre seus marcos, destacam-se os colóquios “A Construção Transatlântica da Noção de Raça e do Antirracismo” (Gorée, Senegal, 2002), “Youth and Nationalism” (Salvador, 2004) e “Mestizajes” (Cidade do Cabo, 2004).
O programa também teve papel estratégico na preparação de quadros para o cumprimento da lei federal que instituiu o ensino obrigatório de História da África e da população afro-brasileira no ensino básico. Nesse sentido, sua proposta de uma pós-graduação interdisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos, articulando ciências sociais, história e letras, representou uma inovação acadêmica no Brasil e na América Latina.
Outro resultado expressivo foi a criação de um ambiente intelectual em Salvador que contribuiu para projetar a cidade como polo de pesquisa e debate sobre o Atlântico Negro. Nesse processo, a Casa do Benin, no centro histórico, desempenhou papel importante como espaço de encontros, residência acadêmica e circulação internacional de ideias, numa proposta de transformar a cidade em capital intelectual das diásporas africanas.
Graças às parcerias nacionais e internacionais estabelecidas pelo programa – envolvendo universidades no Brasil, África, Caribe, Estados Unidos e Europa, além de instituições como Ford Foundation, CODESRIA e Social Science Research Council – o Fábrica de Ideias formou redes de cooperação duradouras e multiplicadores capazes de articular ensino, pesquisa e militância intelectual.
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