Livros Publicados pelo Selo Editorial do CEAA

Ao longo desses 50 anos de história, o CEAA e projeto a ele vinculados tiveram especial compromisso com o alargamento dos debates sociais e compromisso destes com a temática racial e da história do negro na África e em diáspora. Uma iniciativa importante para contribuir com este objetivo foi o Projeto “Traduções” do Centro de Estudos Afro-Brasileiros (CEAB), que esteve em funcionamento no início dos anos 2000 com financiamento da Fundação Ford em parceria com a Editora Garamond. O Projeto consistia na seleção, tradução e editoração de importantes obras na temática das relações raciais que ainda não estavam disponíveis em português. Dentre as obras traduzidas pelo Projeto, podemos citar “O Atlântico Negro” de Paul Gilroy, “O Nascimento da cultura Afro-Americana” de Sidney Mintz e Richard Price e “Branquitude” de Vron Ware.

Para além do “Traduções”, o CEAA esteve empenhado na organização e editoração de obras originais, muitas delas desenvolvidas por pesquisadores que tiveram papel ativo na história do Centro. Citamos aqui algumas: “Economia Contemporânea em Moçambique” de Beluce Bellucci, “A armadilha” de Célia Nunes e o trabalho de compilação de produção intelectual “Escravidão e Relações Raciais no Brasil: Cadastro da Produção Intelectual (1970-1990)”, organizado por Luiz Claudio Barcelos, Olivia Gomes e Teresa Araújo.

Confira abaixo a lista completa.

BARCELOS, Luiz Claudio; GOMES, Olivia; ARAÚJO, Teresa. Escravidão e Relações Raciais no Brasil: Cadastro da Produção Intelectual (1970-1990). Rio de Janeiro: Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 1991.

Compilação comentada de 2500 referências classificadas tematicamente, nas áreas de escravidão e relações raciais, com destaque para as teses de mestrado e doutorado produzidas no e sobre o Brasil. Este livro é a contribuição do CEAA para os debates sobre o centenário da abolição e um instrumento de pesquisa valioso para mapear a formação e a consolidação desses campos de saber no país.

BARRY, Boubacar. Senegâmbia: o Desafio da História Regional. Amsterdam/Rio de Janeiro: Sephis/Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2000.

O livro reúne três artigos do autor: 1. Reflexão sobre os discursos históricos das tradições orais em Senegâmbia; 2. Escrevendo História na África depois da independência: o caso da Escola de Dakar; 3. História e percepção das fronteiras na África nos séculos XIX e XX: os problemas da integração africana. “A Senegâmbia foi uma confederação formada em 1 de Fevereiro de 1982 entre o Senegal e a Gâmbia, dois países vizinhos da África Ocidental, através de um pacto que unia instituições comuns e uma integração das forças armadas e de segurança1 . A Senegâmbia foi dissolvida em 30 de Setembro de 1989 por divergências entre os dois países.”

BELLUCCI, Beluce. Introdução à história da África e da Cultura Afro-Brasileira. Rio de Janeiro: UCAM, Centro de Estudos Afro-Asiáticos/CCBB, 2003.

O objetivo desta publicação é chamar a atenção para o tema da História e da Cultura Afro-Brasileira, fornecendo um esquema metodológico e bibliográfico e colocando em perspectiva a Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que introduz na rede de ensino o estudo dessas matérias.

BELLUCCI, Beluce et al. Abrindo os Olhos para a China. Rio de Janeiro: Educam/Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2004.

A política estratégica que o Brasil desenha para sua nova inserção internacional neste início de século inclui a China em suas prioridades. Que caminhos para a ampliação do comércio, como propiciar investimentos complementares em cadeias produtivas, que fazer para potencializar a criação de novas alternativas nas áreas econômica, política e cultural que confluam ao necessário amanhã melhor, são aspectos da pauta de discussão Brasil-China nos próximos anos e envolverão instituições políticas, diplomáticas, financeiras, produtivas e acadêmicas. Abrindo os olhos para a China é um bom começo para essa empreitada.

Centro de Estudos Afro-Asiáticos: 25 anos. Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, 1998.

GILROY, Paul. O Atlântico Negro. São Paulo: Editora 34/Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2012.

Clássico contemporâneo da sociologia e dos estudos da cultura, O Atlântico negro, de Paul Gilroy, professor da Universidade de Yale, busca definir a modernidade a partir do conceito de diáspora negra e suas narrativas de perda, exílio e viagens. Histórias de deslocamentos e identidades caracterizam essa formação que Gilroy chama de Atlântico negro: um conjunto cultural irredutivelmente moderno, excêntrico, instável e assimétrico, que escapa à lógica estreita das simplificações étnicas, e se manifesta tanto nos escritos de W. E. B. Du Bois como nas letras dos rappers do século XXI.

MINTZ, Sidney; PRICE, Richard. O Nascimento da cultura Afro-Americana: Uma perspectiva antropológica. Rio de Janeiro: Editora Pallas e Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2003.

A primeira versão desse livro foi escrita em 1973, logo após a luta pelos direitos civis e a rápida criação de currículos de Estudos Afro-Americanos e Negros nas universidades dos Estados Unidos. Os autores, os antropólogos norte-americanos Sidney W. Mintz e Richard Price, acrescentam uma voz comedida ao debate sobre as raízes da cultura afro-americana.

VALDÉS, Eduardo Devés. O Pensamento Africano Subsaariano: conexões e paralelos com o pensamento latino-americano e o asiático (um esquema). São Paulo: CLACSO/EDUCAM, 2008. (A apresentação deste livro é assinada pelo CEAA)

Escrito pelo autor Eduardo Devés-Valdés, este livro pretende apresentar as principais figuras do pensamento africano sul-saariano, deixando elas se expressarem com suas próprias palavras e no marco dos ambientes intelectuais no qual se desenvolvem. Levando em consideração o período entre 1850 e 2000, são abordadas questões políticas como, por exemplo, a construção nacional; econômicas, como o desenvolvimento e a dependência; sociais, como as étnicas, as tribais e de gênero; culturais, como a educação, a criação de um saber africano e a disputa pela hegemonia da compreensão da África; e internacionais, como o colonialismo, o neocolonialismo, a globalização etc., ainda que apresentando cada um desses elementos em poucas linhas.

BELUCCI, Beluce. Economia Contemporânea em Moçambique: sociedade, linhageira, colonialismo, socialismo, liberalismo. Rio de Janeiro: Educam, 2007.

O livro, elaborado por um pesquisador que trabalhou por mais de uma década com projetos de desenvolvimento em Moçambique, apresenta um panorama da formação da economia contemporânea do país, cuja inserção na divisão internacional do trabalho, desde a exploração colonial portuguesa, até a guerra de libertação do regime salazarista, passando pela experiência socialista do governo da Frelimo, hoje encontra-se frente ao impasse das exigências de uma “globalização” que possui todas as características de mais uma rodada espoliativa dos países centrais junto à periferia e índices de desenvolvimento humano que revelam que a opção pela liberalização da economia, feita sob a chantagem do Banco Mundial e do F.M.I. na década de 1980, deu-se muito mais como opção política ― inclusive da classe dirigente de Moçambique ― do que uma questão de julgar-se a eficiência ou viabilidade da economia planificada socialista.

ALADAA. Congresso Internacional. Anais do X Congresso Internacional da ALADAA. Rio de Janeiro: Educam, 2001.

Os Anais do X Congresso Internacional da ALADAA apresentam um amplo panorama das pesquisas e debates sobre as relações entre África e Ásia no contexto da globalização, reunindo trabalhos de áreas como história, antropologia, ciência política, estudos culturais e tecnologia. Organizados em torno do tema Cultura, Poder e Tecnologia: África e Ásia face à Globalização, os textos refletem tanto análises empíricas de casos específicos (por exemplo, estudos sobre imigração, gênero e trabalho) quanto reflexões teóricas que rompem com visões eurocêntricas e celebram a articulação transnacional entre pesquisadores latino-americanos e seus pares africanos e asiáticos. A coletânea, publicada em 2001 pela Editora Educam, marca um momento decisivo para a consolidação dos estudos afro-asiáticos na América Latina, catalisando redes acadêmicas e políticas de cooperação que se estenderam ao longo das décadas seguintes

SILVA, Joselina da; PEREIRA, Amauri M. Olhares sobre a mobilização brasileira para a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias.

Olhares sobre a mobilização brasileira para a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas reúne textos analíticos que documentam e interpretam o engajamento de diferentes segmentos da sociedade brasileira — movimentos sociais, poder público, academia e mídia — na preparação e no desdobramento nacional da III Conferência de Durban. Por meio de perspectivas históricas, depoimentos de atores-chave e estudos de caso, o livro explora os debates que romperam a ideologia da “democracia racial”, as estratégias de articulação transnacional e as repercussões políticas imediatas, como a criação de programas de igualdade racial no Brasil.

WARE, Vron; RIBEIRO, Vera. Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Editora Garamond, 2004.

A edição em português de Whiteness, publicada em 2004 pela Garamond sob o título Branquidade: identidade branca e multiculturalismo (org. Vron Ware; trad. Vera Ribeiro), reúne ensaios fundamentais que exploram as origens históricas, as dinâmicas sociais e as manifestações contemporâneas da identidade branca em diferentes contextos. Além da introdução de Vron Ware, o volume traz textos de pesquisadores como David Roediger, Ruth Frankenberg e Ghassan Hage, oferecendo um panorama teórico e empírico que ilumina as estruturas de privilégio racial naturalizadas. Foi uma das primeiras coletâneas em português a apresentar ao público brasileiro aos “whiteness studies”, desempenhando papel crucial na consolidação de debates acadêmicos e ativistas sobre racismo estrutural e ação afirmativa no país.

BOWEN, William G.; BOK, Derek. O curso do rio: um estudo sobre a ação afirmativa no acesso à universidade. Garamond, 2004.

A edição em português de The Shape of the River, lançada em 2004 pela Garamond sob o título O Curso do Rio: um estudo sobre a ação afirmativa no acesso à universidade (William G. Bowen & Derek Bok; trad. Vera Ribeiro), traz uma análise empírica e longitudinal sobre o desempenho acadêmico e profissional de estudantes admitidos por políticas afirmativas em 28 instituições de elite nos Estados Unidos, examinando não apenas os resultados acadêmicos, mas também as trajetórias de carreira e o impacto institucional dessas medidas. Organizado por ex-reitores de Princeton e Harvard, o livro apresenta metodologias rigorosas, desde o desenho dos grupos de comparação até a avaliação de indicadores de sucesso a longo prazo e oferece evidências contundentes de que a ação afirmativa amplia oportunidades sem sacrificar a excelência acadêmica . No contexto brasileiro, esta versão foi fundamental para fundamentar debates sobre cotas e inclusão no ensino superior, servindo como referência para pesquisadores, gestores e ativistas ao fornecer dados concretos e comparações internacionais que legitimaram políticas de reparação histórica e promoção da diversidade nas universidades.

TELLES, Edward. Racismo à Brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro: Relume Dumará/Fundação Ford, 2003.

A obra Racismo à Brasileira: uma nova perspectiva sociológica, de Edward Telles, apresenta uma análise sociológica inovadora sobre as relações raciais no Brasil, integrando as dimensões vertical (desigualdade) e horizontal (sociabilidade) a partir de uma rigorosa análise de dados de recenseamentos nacionais. Diferenciando-se de estudos anteriores, a pesquisa documenta a discriminação racial para além da mera desigualdade, examinando temas como miscigenação, segregação residencial e o papel do Estado na perpetuação do racismo, além de traçar comparações com os Estados Unidos e a África do Sul. A tradução da obra para o português, que chegou a ser planejada para o selo AFRO, uma parceria do CEAA com a editora Garamond, foi finalmente lançada em 2003 pela editora Relume Dumará.

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O capitalismo colonial do Estado salazarista constituiu – especialmente a partir das décadas de 1930 e 1940 – alguma infraestrutura de aproveitamento de fontes de energia e recursos naturais, que, associado a uma política de migração e qualificação de mão-de-obra, permitiu o advento de um potencial industrial à colônia essencialmente primário-exportadora. As dificuldades de gestão do Estado salazarista, e as condições de acumulação de capital usufruídas pela classe dominante metropolitana na colônia, entretanto, inviabilizaram a transformação dos resultados desta acumulação em estoques crescentes de capital para o desenvolvimento futuro. Tal diagnóstico, feito de maneira precisa pela geração dos libertadores de Moçambique da espoliação colonial, permitiria uma tentativa efetiva de reorientação dessas forças produtivas a partir de sua independência, sob o governo de Samora Machel. O uso amplo de fontes primárias ― prerrogativa de quem a elas teve acesso durante anos ― documenta o painel apresentado por Belluci. A ele também cabe o reconhecimento de que, ainda que sofrendo majoritariamente a sabotagem, e o boicote em diferentes níveis, desde os antigos colonizadores racistas até os países beneficiários da ordem capitalista mundial, a Frelimo não conseguiu superar o desafio do crescimento econômico sem a exploração dos trabalhadores. A organização sistemática deu espaço à burocracia e à corrupção; à elite colonial outrora imposta pelo Estado racista português, sobrepôs-se uma elite burocrática do Estado moçambicano, a qual deixou progressivamente de ver na sabotagem e boicote reacionários – em nível interno pelos apartheid-boys da Renamo e em nível externo pelos órgãos internacionais de finanças – a face do inimigo, substituindo-a pela mão da cumplicidade. Não é à toa que – como acontece em todos os países que abandonaram o socialismo na década de 1980 – os novos proprietários dos meios produtivos – em sociedade com o capital externo, evidentemente – são, muitas vezes, antigos funcionários da burocracia do então extinto governo socialista. Mas, se de um lado, a história do socialismo em Moçambique é a história de uma interrupção, ela também mostra uma possibilidade para o futuro. Moçambique fica como exemplo para a história. Afinal, “a história não acabou e a luta continua. Mais cedo que tarde, outro horizonte aportará em uma nova sociedade com novos valores, em que a produção baseada em tecnologias domesticadas servirá para atender às necessidades materiais e culturais dos seres humanos. Estes não mais separados por nacionalidades ou classes, nem organizados em Estados, mas agrupados em associações fundadas na liberdade, na igualdade e na solidariedade.”
Resenhista Luiz Eduardo Simões de Souza – Mestre e Doutorando em História Econômica pela USP.

Dentro do projeto de traduções do selo Afro e com financiamento da Fundação Ford, havia um plano de médio prazo para a publicação de diversas obras importantes. Entre os títulos cuja tradução estava planejada, encontravam-se Ação Internacional contra a Discriminação Racial, de Michel Banton, e Anthropologie du Carnaval: La Ville, la Fête et l’Afrique à Bahia, de Michel Agier.

Apesar do planejamento e da publicação de outros livros pelo selo, estes títulos específicos não chegaram a ser lançados. A continuidade do projeto de traduções tornou-se inviável devido a uma crise financeira que afetou a Universidade Candido Mendes (UCAM) e o próprio Centro de Estudos Afro-Asiáticos (CEAA), levando à interrupção da série de publicações.